TRÊS GERAÇÕES
Três gerações de mulheres em volta a mesa da cozinha numa manhã qualquer de domingo
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A primeira tem meu sangue, mulher de fibra que tanto admiro, pois não teme o frio ou a tempestade e se aventura no mundo para ganhar o pão de cada dia.Ela é firme como uma rocha e desconfio que seja feita de aço.
Ainda mais nobre e sublime do que descrevo em prosa. Seu corpo é esguio, sua mente lúcida e seu coração é farto de amor. Ela tinha o peito macio e confortável e eu sentia que ali era o meu cantinho favorito no mundo.Agora ali repousa uma rosa vermelha, a flor que depositei sobre um coração que já não batia.
A segunda tem meu sangue também, embora eu possa jurar que não somos feitas da mesma matéria. Sangue não são laços e eu posso provar.
Ela é alguém que passei a vida toda tentando fugir e me proteger. Até hoje sua voz ainda me causa estranheza e meu estômago regurgita em sua presença áspera.
Deveríamos ser o que esperam que fossemos, mas nossa realidade adversa nos fez inimigas, predadoras e caça.
O cordão que nos uniu foi cortado pela mesma lâmina fria que repartiu nossos destinos.Desde então estávamos sozinhas, à deriva do destino e jamais poderíamos nos reconhecer novamente.Uns podem dizer que foi uma perda, eu diria salvação.
Essa mulher mora atrás dos meus olhos e eu reprimo suas características em mim, por um medo insano de ser como ela é.
A terceira sou eu, ainda pura, inocente e temendo a vida. Meus olhos infantis são ávidos e escuros como o romper da noite. meu corpo frágil e pequenino abrigando uma alma de poetisa que mal cabia nele. E então, se desprende, sobrevoa o oceano da eternidade e volta adormecida para descansar sobre minha poesia.
Três mulheres, três corações indomáveis que por um descuido qualquer se fizeram mãe, filha e neta.
Três almas perdidas que estavam predestinadas a viverem juntas.Embora seus efeitos tenham sido nocivos, pois uma me levou a alma e a outra o coração.
E sem alma, coração e pouco alento sobrevivo aos dias que restam na solidão perpétua da vida.