Do afeto e do objeto
Devido às perdas todas que tive na última enchente, aqui em Porto Alegre (não se pode saber quando será a próxima), me peguei tendo um pensamento curioso: meu cérebro já se esqueceu de algumas coisas que perdi. Estou hóspede, ainda. Volto pra casa em breve. Me sinto mais feliz pelos poucos livros e quadrinhos que sobraram, que pesaroso por todos que perdi. Imensamente feliz pelos presentes que já me deram meu filho, familiares e amigos. Sem pensar tanto no que já foi. E foi uma semana emblemática. Ontem encerrei uma amizade de 40 anos, dos tempos de infância. Não havia mais por parte de meu amigo solidariedade, interesse e empatia, há tempos. O episódio da enchente, onde se negou sobretudo um apoio moral, foi definitivo. Hoje... hoje encerrei um amor muito forte, que depois de acabar, há oito meses, ensaiava uma volta. Descobri que pra ela eu sempre fui mais objeto que afeto. Então. As coisas vem e vão. O grande segredo é estar-se pronto a deixá-las ir, ser grato pelo que ficou e estar aberto ao novo, que a vida invariavelmente nos trará.