Cinzas

Você gosta das minhas palavras doces,

mas sei que prefere as obscenidades

proferidas por outras bocas.

Você gosta da maneira dócil que

toco o seu corpo,

mas sei que se excita entre

braços que estrangulam o amor.

Você me olha nos olhos,

mas quando vai ao céu está sempre

com os seus fechados, pensando não

sei em quem.

Você diz que sou muito sensível,

um poeta sem ambição que

não sabe o que quer

e que não chega a lugar algum.

Mas posso ser de tudo um pouco,

posso ser o outro lado da moeda

se acaso preferir.

Meu “Eu te amo” pode dar lugar a um

“Abre as pernas, vagabunda”.

Minhas mãos que santificam sua face

podem encher de tapas a sua moral.

Esta mesma boca que com tanto

carinho inunda a sua preciosa

pode cuspir ofensas, literalmente.

Meus monólogos podem te levar

do país das maravilhas ao quinto dos infernos,

tudo isso em questão de segundos.

Você é fogo.

Eu sou água. Límpida, porém às vezes turva.

Qualquer dia desses a gente se afoga em um

rio cheio de cinzas.

Renato A
Enviado por Renato A em 21/06/2024
Código do texto: T8090645
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.