Cinzas
Você gosta das minhas palavras doces,
mas sei que prefere as obscenidades
proferidas por outras bocas.
Você gosta da maneira dócil que
toco o seu corpo,
mas sei que se excita entre
braços que estrangulam o amor.
Você me olha nos olhos,
mas quando vai ao céu está sempre
com os seus fechados, pensando não
sei em quem.
Você diz que sou muito sensível,
um poeta sem ambição que
não sabe o que quer
e que não chega a lugar algum.
Mas posso ser de tudo um pouco,
posso ser o outro lado da moeda
se acaso preferir.
Meu “Eu te amo” pode dar lugar a um
“Abre as pernas, vagabunda”.
Minhas mãos que santificam sua face
podem encher de tapas a sua moral.
Esta mesma boca que com tanto
carinho inunda a sua preciosa
pode cuspir ofensas, literalmente.
Meus monólogos podem te levar
do país das maravilhas ao quinto dos infernos,
tudo isso em questão de segundos.
Você é fogo.
Eu sou água. Límpida, porém às vezes turva.
Qualquer dia desses a gente se afoga em um
rio cheio de cinzas.