Memória de um arigó
Não era terra do sertão
Nem distrito interiorana
Apenas um morro,
Que por desventura seria chamado
Feijão.
Sua linguagem era pura mistura
Sotaque italiano com português matuto,
Coisa de capiau mesmo.
E lá se foi aquele menino estudar
Para não ter que plantar feijão.
E logo naquele casarão, nova escola,
Se nem o português ele sabia,
Agora teria que encarar o latim
E o inglês.
Para deixar de ser arigó
Não tinha outro meio
Era preciso aprender as declinações
Como se fossem plantações,
De feijão.
De tanto ser obrigado a falar de si
De onde nascera
E onde morava,
Sem endereço
E menos ainda adereço,
Ficou conhecido por todos:
Fejãozinho.
Mas estava deixando de ser jeca,
Na escola galgava os primeiros lugares,
E na música evoluiu autodidaticamente
Até se tornar organista da igreja.
Então o reconhecimento geral
Era o mais inteligente.