Memória de um arigó

Não era terra do sertão

Nem distrito interiorana

Apenas um morro,

Que por desventura seria chamado

Feijão.

Sua linguagem era pura mistura

Sotaque italiano com português matuto,

Coisa de capiau mesmo.

E lá se foi aquele menino estudar

Para não ter que plantar feijão.

E logo naquele casarão, nova escola,

Se nem o português ele sabia,

Agora teria que encarar o latim

E o inglês.

Para deixar de ser arigó

Não tinha outro meio

Era preciso aprender as declinações

Como se fossem plantações,

De feijão.

De tanto ser obrigado a falar de si

De onde nascera

E onde morava,

Sem endereço

E menos ainda adereço,

Ficou conhecido por todos:

Fejãozinho.

Mas estava deixando de ser jeca,

Na escola galgava os primeiros lugares,

E na música evoluiu autodidaticamente

Até se tornar organista da igreja.

Então o reconhecimento geral

Era o mais inteligente.

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 19/06/2024
Código do texto: T8089558
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