Poema inacabado
Vai-se a tarde deslizando devagar pelos corrimões ensolarados do tempo. Parece poema inacabado, mas feliz com seus pedaços de versos; Espetaculosa nos seus trajes, com a cabeça ornamentada pelo crepúsculo; Sorrindo; E como que a deixar as escadarias do céu, livres, para as estrelas que saltarão da boca da noite, atapetar de brilhos cada degrau, assim que seu desfile acabar.
Nessa arte de viver, com surpresas e experimentações, colecionamos coisas, momentos, sabores, cores, cheiros e sons. Mas o maior acervo é de ilusões. As belezas nos excitam ao mesmo tempo em que nos roubam a paz quando nem todas às vezes podemos tocá-las. Ainda que seja fato, que as perfeições se dão em tudo. Depende do nosso olhar e do sentir para sabê-las inteiramente e assim retê-las e cultivá-las em prazeres. O simples pode ser o mais complexo, bem como na ordem inversa, pode ocorrer o mesmo processo.
Mas, deixo de lado essas divagações e volto para a tarde quase totalmente extinta. Do arrebol, resta apenas uma vermelhidão que vai se apagando, como ferro quente batido pela marreta do ferreiro, e que vai tomando formas de noite ao redor do horizonte. Parece mesmo poema inacabado sendo recitado pela saudade.