Sonho de criança
Tenho tentado absorver miudezas do cotidiano só para não esquecer como é bom estar viva. Cheiros. Sabores. Sons. Olhar atento às sutilezas do céu. As nuances das cores do mundo. É tão simples, e tão bonito. Sempre gostei tanto dessa Terra. Tenho olhos que enxergam. Ouvidos que ouvem. Só preciso me lembrar de sentir. Respirar. E deixar a pele falar com seus arrepios, dores, cicatrizes. Preciso sentir. Fome. Êxtase. Saudade. Ser verso. Deixar brotar a poesia de uma existência mais encantada, menos irritadiça, menos impaciente. É que eu tô cansada. E a exaustão consome a alegria. Embaça o lado bom e belo de ser e estar aqui. No agora. Talvez eu só precise dançar. Com os olhos fechados. Daquele jeitinho quando a brisa bate. Sem os anestésicos fantásticos. O barato agora é outro! É vida real! Sem ansiedade extenuante. Com a circulação plena pelas veias latejantes. Um impulso de girar tão intenso que outra realidade se abre para um outro lado. Um portal surge para criar uma nova experiência. Um salto. No abismo. No ar, braços abertos. Entregar. Fluir. Permissão para nascer outra mulher. Mais uma vez cigana, poeta, bailarina. Menina que joga suas tranças. Desce da torre. Monta seu cavalo alado. E desperta para a manhã de sol. Para lavar a louça. Estender as roupas. Preparar a refeição, equilibrada, do dia. Trazendo por dentro o frescor da lembrança de um sonho bom.
*Si*