Doce armadilha
É o curso natural das coisas, alguém me disse. Um pedaço de algodão doce derrete na boca, uma gotinha adormecida de orvalho cai da janela, a impressão do corpo se apaga do lençol.
De algumas coisas, no entanto, não sabemos como nos despedir. E elas permanecem, sem a ajuda de notas ou de livros, embrulhadas no pensamento. É o que acontece nesse meu coração teimoso, a quem escuto como um animal atraído por uma armadilha.
Agora mesmo vejo meu amado. Ele me aparece em relevo, “mangando” no ar e acenando da janela como um menino sapeca. Tem o rosto enfeitado por lábios de um caboclo promíscuo. As costas pardas e tão belas. Um hálito quente que aquece o meu ventre. Ele tem toda a minha saudade, o sentimento mais confuso que já tive.