Âmago
Que bom! Ainda estou aqui. Tão bom sentir que algo genuinamente meu ainda sobrevive, e pulsa aqui dentro. Esse sei lá o quê tão significativo. Essa essência tão íntima, tão pessoal, única, que faz estremecer a carne morta, revirando as entranhas de angústia, trazendo um sol ainda gelado, mas potente e real. Sim. Ainda sou eu, em verdade e palavras.
Em versos atravessados. Fora do tom azulado das pontes que insisto em não atravessar. Esse casulo ainda parece tão quentinho, acolhedor, incômodo. Zero desafios. Nenhum esforço. Um lugar de calma, onde a quietude não leva a nada. Sobrevivo. Debaixo dos escombros. Além das ondas bravias. Longe das tempestades. Chuvisco que rega a alma, mas não faz inundar as folhas amarelas do tempo que escoa por entre as mãos que já não constroem manuscritos. Tudo parece tão absurdo! Para que tantas exigências? Por que tantas regras, se permanecer quieta ainda é melhor? O silêncio nada cria. O barulho se agiganta por dentro. Desperta. Vem lembrar que algo dorme um sono profundo. Sou eu. Pelo avesso. Na forma mais verdadeiramente minha. Junto ao sangue correm os verbos inquietos. Feito náusea. Feito ferida aberta. Algo precisa ser expulso. Só assim consigo me ver, além das muralhas seguras. O que sou. Espelho dos séculos, e dessa vida mundana. É possível atravessar paredes, o desejado super poder da invisibilidade. Só não posso esquecer de mim. Não posso me esconder de mim. Senão a sombra grita por luz. A menina quer colo. As palavras precisam ecoar. Dentro, e fora, dessa coisa toda que habita calada, serena ou enfurecida por dentro da minha pele…
*Si*