O que você quer?
Hoje veio alguém me visitar
Queria ficar sozinha, mas disse: "tudo bem, pode entrar"
Acontece que essa visita aqui permanece
E está começando a me irritar: "vê se me esquece!" -digo em em voz alta
Ainda assim ele não me larga
Então grito: "O que você quer?!"
E isso retorna quase como um eco:
"O que você quer?!"
Surpreendo-me e me calo
.
.
.
E nesse silêncio, entendo
Fui eu quem o chamei
Preparei tudo pra recebê-lo
Sem nem perceber
Eu que desorganizei a casa,
Tirei a mesa
Sujei os pratos, quebrei os copos
Remexi em todas as gavetas
-Ao mesmo tempo-
Joguei fora segundos, minutos, horas
Fui deixando circular todo pó
E pensamento
Na redoma da mente
E faltou o ar
Criei toda essa confusão
E fiquei sem espaço
Pra sequer querer algo
Ocupando toda minha visão
O que não queria e não cabia
Enchendo meus ouvidos
O barulho dos meus tropeços
No entulho que acumulei
E nesse limite desrepeitado do ser
Logo antes de enlouquecer
Chegou você:
O famoso, não tão desejado
As vezes até mal visto ou maldito
Mas um tanto esperado
O Cansaço
Agora consigo dizer:
"Obrigada por me mostrar
O pó em minhas asas
A sujeira em minha casa
A água parada em meu coração
Os pesos em minhas costas
A resistência em permanecer na escuridão
Obrigada por me contar
Que não sou obrigada
A continuar nesse lugar
Agradeço por me apontar
Outro ritmo
Outra dança
Outro olhar
Simplesmente ao ecoar:
O que você quer?!"
Observo-o ir embora
Devagar, com o passar das horas (e das estações de dentro)
Não me preocupo muito, pois sei que volta
De tempos em tempos pra prosear e ecoar
Os sons e gritos dos meus desequilíbrios
E ali onde esteve, deixou ele um bilhete:
"O que você quer?! [Use isso pra acender a chama por dentro, chamar o movimento e conectar o ser ao tempo; inspire-se e solte o que precisa ir, faça algumas pausas nessa sua valsa. Escute meu bem, pois não desejo voltar tão cedo, preciso descansar também]".
Achei um tanto engraçado que o cansaço descanse, pensei que ele seria constante.