AINDA SEM TÍTULO

Ela ainda está aqui: rondando meu corpo e meu espírito. Eu luto para que ela não me domine, mas, quando menos espero, ela sussurra em meus ouvidos, e meus pensamentos ficam sem rumo. Às vezes fico fora do ar por alguns minutos por causa disso. Às vezes horas, por vezes semanas.

Estou cansada de ser dominada por ela. Quero acabar com tudo e sumir para sempre. Sim, desaparecer. Desligar e deixar o generoso abismo do nada e do silêncio tomarem meu lugar neste mundo.

Família, minha vida, meus cachorros, meus negócios não importam quando entro nesse torpor, nessa roda infinita de desgostos, tristeza, desânimo e frustrações...

Mas quando respiro fundo e fecho os olhos para colocar meu trágico plano em prática, você surge na minha mente: vejo seu rosto e sorriso, e sinto um aperto no meu peito, esmagador. Como posso simplesmente desistir de tudo se você existe? Como esquecer daquele momento no fundo do poço onde você foi a única pessoa que me estendeu a mão? Como esquecer a luz que brilhou através de você e me tirou do breu em que me encontrava?

Não posso nem cogitar essa hipótese. Preciso encontrar um jeito de reacender a chama que você despertou em mim. Pensando em tudo o que passamos, eu e você em nossas individualidades, mergulho ainda mais nas minhas sombras e abraço cada um dos meus medos. Preciso amar meus demônios, brigar e reescrevê-los, pois só assim poderei ter forças para vencê-los.

Não vai ser fácil; terei ainda mais baixos do que altos, mas sei que vale a pena. Mais uma vez, respiro fundo e ergo minha bicicleta.

Ando pela estrada deserta, e a poeira que o vento forte levanta, de vez em quando, turva a minha visão. Não me importo, agora nada pode me parar. A vida continua, e eu estou voltando.

Dessa vez, eu serei a luz que vai te guiar. Por favor, seja forte: estou voltando, indo direto para você.

Sonhe!