Um Dia Estranho
Acordei - ou, ao menos, pensei que sim...
A luz da manhã não filtrava-se pelas cortinas, mas a escuridão parecia dançar de um jeito nunca visto. O som do relógio na parede, cadenciado, agora ecoava com um peso diferente. Cada movimento meu gerava um rastro sutil, quase invisível, no ar. Os objetos ao meu redor, familiares e estranhos ao mesmo tempo, guardavam segredos que nunca percebera.
Cada passo revelava mais peculiaridades; o chão sob meus pés descalços tinha uma textura desconhecida, e o espelho refletia um rosto que era meu, mas que me olhava com olhos de outro. A cozinha, o quarto, a sala, o banheiro... cada cômodo pulsava com uma vibração que desafiava a lógica. Sentia que a realidade deslizava por entre os dedos, um sonho tecido de sensações incertas.
Foi então que compreendi: o dia estranho era um reflexo distorcido. Não era o mundo ao meu redor que havia mudado, mas a minha percepção. Num instante de lucidez sombria, percebi que nunca havia realmente despertado. Estava preso nas margens do meu inconsciente, flutuando entre a vigília, o despertar e o sonho, num limiar onde a existência se dissolvia na névoa do inefável.
Assim, o estranho dia revelou-se como uma metáfora da vida, onde a certeza é um artifício - e, a verdade, um enigma sem FIM!