Desabafo de um condenado
Eis o meu pecado
Nele há o que mais abominável existe
Não sabeis, vós em mim seguidores
Que por vaidade e arrogância
Incitei servos inocentes a erros
E por interesse, insultei homens probos e por palavras vis, os condenei
Sou vil na abrangência da vileza
Sou, por erro só meu,
Responsável por tudo que às lágrimas levei viúvas e seus filhos órfãos
Sou o déspota de reinos falidos
Porque, igualmente com vileza, transigi com reinos estrangeiros
E saqueei os próprios cofres
Não fui digno dos vernáculos divinos
Eu, que ofendi as crenças e diretrizes dos deuses, cedi ao primeiro clarim e rastejei às súplicas nefandas dos traidores
Nefasto por toda vida
Sou culpado
E mais ninguém
Vil, sou vil mais que o mais abjeto verme
Por todo acontecido
Sou eu o único autor e culpado
E, agora, ao pé da morte
Não lo suplicareei recompensas, nem absolvição
Assim parto
Sem inaudita promessa de reconciliação
Parto como fez o condenado ao laço forte da justiça
Calado e sem direito a perdão
Porque, aos atos vis não cabe outra coisa senão a justa medida da justiça
Então eu parto,
Ao menos nessa hora
Certo que à vileza, a espada da justiça.