Nublado

Pranteiam as rosas, com orvalhos gotejantes e lamuriosos da geada pregressa. Um lago encrespado bem próximo, bafora a friagem; pássaros tímidos se recolhem para dentro de suas asas a fim de se aninharem, anseiam aquecer seus corpos frágeis e frios. A paisagem semi nua, sob véu da neblina, emana uma atmosfera taciturna. Discorre do silêncio, um mesclado de sutis sons advindos da Natureza e seus habitantes. Transeuntes quase não se vê... o vento sussurrante passa dando movimento às relvas insinuantes, que se assanham abrindo passagem... quase como um convite para adentrar mata a dentro... para infringir seus mistérios; num rito de paz, espreitam de longe os sapos, com suas pálpebras pesadas... em lânguidos coachos... sonâmbulos de suas rotinas noturnas. O dia vai se desembrulhando, às vezes parece que vai retroceder, mas são só nuvens procurando encaixes, sem pedir passagem, ofuscando o sol que não quer despertar, nem quer brilhar... e permanece sem reluta alguma, ocupando tão somente o seu lugar: nos bastidores acolchoados do firmamento. É só mais um dia cinzento que ninguém vai se lembrar... sucumbirá como tantos outros que se assemelham a este... na memória dos esquecidos, dos que sequer despertaram para abrir as janelas. As cortinas estão na moda... e ainda impedem descortinar o que não tem intenção de se revelar. Deixe o sono velar... nortear a dispersão. Que não nos falte alternativas para se aquecer... ou esquecer.

Fênix Arte
Enviado por Fênix Arte em 11/06/2024
Código do texto: T8083826
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