ZARPAR - A AVENTURA VAI COMEÇAR!
-Vai ter ao porto. Estou lá a tua espera ! Disseste-me tu com voz firme e envolvente.
Nem pensei duas vezes. Saltei da cama e tomei um duche rápido. Sequei-me energicamente com a toalha azul felpuda que comprei no Ikea. Sabia-me bem aquela maciez. Espalhei body butter no corpo todo. A pele aveludada e subtilmente perfumada, faz-me sentir um extraordinário bem estar e relaxamento. Ou será que é porque estou feliz? Adiante Maria…
Apressadamente vesti uns jeans claros com rasgões nos joelhos, um top branco, amplo, com os ombros a descoberto. O branco fica-me bem, realça e contrasta lindamente com o tom bronzeado da pele. Por fim calcei uns ténis da New Balance. São super confortáveis e como acessório, coloquei apenas a pulseira cromada de design geométrico, que uma amiga me ofereceu.
Estou tão bronzeada que não preciso de muita maquilhagem. Um risco de eye liner preto, rímel e batom vermelho cereja nos lábios é o suficiente.
Gosto da cor que o sol deu á minha pele. Até o cabelo ficou mais claro. Os sumos de cenoura ativaram o bronzeamento e conferiram á pele uma linda cor.
Meti algumas tralhas num saco a tiracolo e ala que se faz tarde. Eram duas horas da tarde quando cheguei ao porto de Dover.
A ansiedade era muita. Nem sequer coloquei em dúvida se ele estaria lá ou não. Eu sabia que estava lá á minha espera. Se ele disse que estava, é porque está. Ele não é zé trafulha e nem tinha necessidade de mentir.
Apenas alguns segundos para me situar e olhar á minha volta. Eis que o avisto, caminhando em passos largos na minha direcção. Tem uma compleição alta, bem musculado e a tez ligeiramente tisnada pelos ares do verão. Os olhos são maravilhosos, d'um azul que me parece o mar, onde me sinto navegar, embalada pelas ondas do seu amor. O sorriso é puro e contagiante.
Quando nos aproximámos mais, o nosso olhar fundiu-se um no outro e instintivamente e em simultâneo, desatámos a correr, na ânsia de encurtar os metros, que separavam o nosso abraço. Ficámos frente a frente. Os nossos corpos, quase se tocando. O seu olhar, penetrou-me até á alma e foi tão profundo, que senti o primeiro orgasmo ali mesmo, já dentro do seu abraço. E o beijo ? Ai o beijo, revirou tudo dentro de mim. Naquele momento, era tudo o que sonhei e não sonhei, por não saber.
As sensações que sentia eram fortíssimas, como se um furacão me tivesse possuído.
Eu era o mar que queria ser navegado. Eu era a montanha que queria ser escalada. Eu era o vulcão que queria ser extinto. Eu era uma guitarra soltando lânguidos ais de prazer. Eu era uma festa, com foguetes e fanfarra. Eu era uma orquestra, onde os vários instrumentos musicais se amalgamavam e se tornavam indistintos. Eu era uma verdadeira montanha russa, gemendo, gritando, chorando e rindo, tão grande o prazer que sentia. Apenas e só, porque ele estava ali na minha frente. O meu adónis,o meu príncipe encantado, o homem que sempre quis e que afinal desencantei.
A sua voz rouca e sedutora, chamou-me á realidade.
- Vamos meu amor. Maria espera-nos impacientemente.
Fiquei atónita e algo inquieta. Maria espera-nos? Repetia eu mentalmente. Deixei-me conduzir maquinalmente, como se o meu cérebro tivesse sido substituído por um rolo de palha de aço.
-Chegámos, meu anjo adorado. A nossa aventura vai começar agora.
E o que me salta logo á vista, é a palavra Maria, trabalhada numa belíssima escultura, afixada no costado d'um soberbo iate.
Uma bela deusa decorava a proa, em sinal de boas vindas e auspiciosos ventos.
Eu fiquei sem palavras tal foi a comoção. Não conseguia traduzir por vocábulos, a miríade de sentires que se empurravam e acotovelavam dentro de mim.
Só tinha clara noção, dos sininhos que tilintavam em todo o meu ser e depois fiquei extasiada, quando o sol sorriu pra mim, as núvens se afastaram e o céu se abriu para descobrir o palco, onde uma orquestra de querubins e serafins, tocava harpa e trompete. Absorvida, bebia cada nota de música, com avidez e sofreguidão. Afinal o paraíso existe. Eu estava no epicentro da felicidade.
Senti um toque suave e eletrizante no braço.
A orquestra interrompeu a actuação e os anjos fecharam as cortinas do palco.
-Vamos meu amor, Maria espera-nos.
-Tu deste o meu nome ao iate? Ele olhou-me com olhar travesso e amoroso e num salto pendurei-me no seu pescoço, com as pernas á volta da sua cintura.
E foi assim, ao colo, que me levou para dentro do Maria. A aventura vai começar e não tem prazo para terminar. Possivelmente será o verão todo.
Zarpar!
Maria Dulce Leitao Reis
09/06/17
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