[Entoando uma Despedida]

Tem horas em que as flores, a música da noite, os bares, a visão das belas mulheres — tudo, enfim, compõe-se numa perda que avulta, vem sobre mim no negrume de um assalto inevitável, e prancha-me na cara a vertigem desta realidade: o meu tempo passou! O sentido das coisas foge, a alma voa, refugia-se em criptas escuras, frias.

Esta imagem só me dá descanso em alguns breves intervalos de tempo, principalmente naqueles em que eu não estou só... aí, eu até pareço alegre: engano bem!

Meus pés mal suportam pisar os escombros de tantas possibilidades; sei que devo resignar-me: submergir os sonhos, não mais olhar estrelas à noite, e entoar uma despedida.

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[Penas do Desterro, 08 de janeiro de 2008]