Antonio queria tanto Sonia
Que achava que seu querer bastaria,
Que querer era força inconteste,
Como um arbusto forte numa pradaria.
Não contava Antonio com o ululante
Que a vida não passa de uma aventura errante.
Só faltou a ele alterar o semblante
E perguntar a Sonia - se ela queria.
Voltado pra dentro do seu próprio sonho,
Não sabia sonhar os sonhos alheios.
E Sonia, que era muito arguta,
Captou se tratar de um devaneio.
Sonia queria Antonio, mas não tanto
A ponto de perder seu maior encanto,
A ponto de viver uma não verdade,
Seu desejo denso pela liberdade.
Mas na noite escura, ao clarão do luar,
Na areia movediça dos dias difíceis,
No tufão errante de um temporal,
Sonia enxergou além das planícies
Um fragoroso e tênue sinal.
Antonio amava Sonia,
Mas temia amar.
Fugia de si mesmo
Com medo de conectar.
E nessa fuga errante,
Nessa cavalaria desenfreada,
Arriscava perder o que não tinha:
Um amor inconteste e de tal quilate
Que valeria o mundo, valeria o dia,
Bem como cometas e mil disparates.
Caberia a Sonia, decisão de risco,
Apostar na sorte, pois com tal consorte,
Com esse tal de Antonio,
A vida teria a leveza de um pássaro a voar
Ou a morte lenta no rochedo de Gibraltar.
Sonia olhou pro céu, olhou pro rio,
Sentiu em si um clamor, um arrepio,
E decidiu que sim, pois seu corpo pedia
Aquele abraço tão açucarado
Que só Antonio podia.