Posso Ser

Já fui a semente que não germinou e não se tornou árvore

Já fui a árvore que secou sem respirar

Já respirei como lagarta que morreu no casulo e deixou de ser borboleta

Já fui asa só de pena que caiu sem nunca voar

Já voei pra longe, mas tão longe que perdi meu ser

Já fui a água represada que nunca encontrou o mar

Já fui mar morto por lembranças do passado, sem o brilho de algo vivo

Já fui o fogo que destruiu o entorno e não se transformou em chama que acende o sonho

Já fui areia em deserto - que morreu sem beber uma gota de água, desejando ser praia

Já fui a lama de um pântano que nunca tocou um raio de sol

Já fui o raio que atingiu a terra, mas nada partiu

Já fui a partida sem nunca ter chegado

Já cheguei sem ter estado

Já estive sem existir

Não sei bem o que sou, mas o que fui deixo ir

Pra poder me tornar tudo o que ainda não fui

Já agora, posso ser

Tudo o que antes era destino:

Ser a árvore que gera a semente

Ser o ar que navega dentro e entre as árvores

Ser a borboleta depois do casulo

Ser o voo que é tecido com a asa

Ser o ser que retorna pra casa

Ser o mar que movimenta as águas

Ser o brilho no presente de um passado vivo

Ser a chama que aquece e ilumina seu entorno

Ser a areia da praia que filtra a água e o tempo, bebendo desejos

Ser o raio de sol que toca a lama e o pântano

Ser o que parte quando é preciso encerrar o ciclo

Ser a chegada e partir após ter sido

Estar mesmo sem ter chegado

E existir antes de sequer ter estado

Agora, posso ser