Atravessei o deserto. Areia, silêncio e o calor. O sol parecia enorme e seus raios eram chicotes a queimar olhos e o dorso. O vento quente soprava a saudade dos fonemas humanos. Palavras ditas e não sentidas. Ou palavras sentidas e não ditas. Em cada omissão, há um tratado inteiro de dor, leniência e culpa. Atravessei o deserto. As reticências no bolso faziam procurar mais narrativas.
Mas, o silêncio respondia a tudo. Seus olhos marejados roubaram o orvalho da manhã. Quando o sol ainda menino parecia manso e infantil. Depois, a tarde, vinha hostil cobrando sobre a areia, alguma resistência. Saí do deserto. Abortei o silêncio. E, entre as palavras inscrevi a poesia inevitável dos dias. Marquei com um X, a opção inverossímil.
Amar o outro é a projeção subjetiva sobre outro ser... Exige muito. Exige desprendimento. Pois o outro, não nos pertence. Não podemos acondicioná-lo na gaveta, no cofre ou no inconsciente. Amar é perder-se... em palavras, em silêncios e, principalmente, em gestos simbólicos de intimidade e cumplicidade.