"Poema confessional"
"Poema confessional"
Você pode até tentar me enfiar em algum lugar,
me taxar.
Me colocar dentro de um formato.
Mas eu vou sempre vazar,
me espalhar pra outros lados.
Eu não caibo (aqui),
mas mesmo assim aproveito,
porque não creio ser defeito
ter um tanto de cada coisa pra fazer.
Pra dizer.
Pra viver.
Eu sou tudo porque tudo eu abraço.
Sem fundo, sem canto, eu sou o traço
contínuo e sem direção certa.
Uma linha que flerta, mas nunca se fecha.
Nunca encontra a si mesma,
nem depois de muitas resmas.
Porque quando o "eu" encontra consigo,
encontra comigo um outro "eu".
Um outro brio.
Um outro breu.
Raiz profunda, alcança os céus.
Trevas turvas, afasta os seus.
Eu sou infinito. Infinitamente ínfimo.
"Absolutamente" absoluto.
Sou mais um filho no mundo.
Do mundo, de todo mundo.
Mas ainda mais meu.
E por isso, por essa atitude,
cada vez mais vou conhecendo a solitude,
distante de quem não entendeu
que se me chamar, ou não, eu vou
pois, atrás do "pesadão" só não vai quem já morreu.
Mas, é claro, eu preciso ser correto
com cada um que já me apareceu.
Um dia, no único futuro certo
perecer, também, irei eu.
E nesse dia quando, então, eu me for
será bem fácil compreender
o que chamei de dor,
o que vivi a decompor
fatorando nos meus sonhos,
hora acordado,
hora em sono.
Vai ser possível praticar a empatia,
(a mesma que pedi em vida,)
sem que tenha que gastar sua energia
que, pelos prantos, não terá garantia
de tê-la de volta neste fim.
Você, então, vai perceber que muito antes
já era constante a importância que eu dizia
que você tinha pra mim.
E enfim, tendo amarrado isso tudo
abro essa mão chamando "truco!"
Dou adeus aos brutos
e pros meus frutos, o chapéu.
Deixo a Terra pra virar um pedacinho do céu.
Bruno Mariano "Gardeniro"