Amargavilha
Amarga vida,
Vida amarga,
Maravilha.
Assim é,
Não há o que por ou tirar,
Tem que se admirar
A crueza do viver,
A venturança do anoitecer.
Nua,
Crua,
A realidade é uma porrada,
Uma trombada,
Cruenta,
Soturna
E encantadora.
Lá vem a onda!
Abaixe-se,
Passou.
Mas vai vir outra
E outra.
Ufa,
Doeu,
Acabou.
Como um raio,
Num estalar de dedos,
A vida, tão frágil,
Escaldante,
Amorosa,
Radiante,
Esvai-se num conta-gotas,
Escorre por entre os medos.
Abrilhanta,
Acalanta,
Hipnotiza
E se retira.
No outono:
Tenho sono, mamãe!
Vai dormir, meu querido.
Já é tarde