A Saudade, eu e as estações...
-Faz tempo, mas que nunca será tanto tempo assim para ser capaz de me fazer esquecer, a recordar com riquezas de detalhes, acerca das intermináveis prosas que tivemos em lugares absolutamente simples, mágicos e maravilhosos. Lindos lugares, justamente por serem tão insuetos, ao mesmo tempo singelos!
-Situações, fatos e lugares, revestidos de encantos e poesias, que se deram no transcorrer das principais estações, nos melhores tempos de minha de vida!
[e olha que a minha alma e o meu coração, embora de um tosco menininho, desde lá já sabiam disso, só que aquele mesmo bronco garotinho, o tal, achava que serem para sempre]
-Situações, como daquelas que depois de estarmos abrigados fugindo de um 'castigante calorão' de meio período, sob as sombras duma árvore, a maior e mais frondosa do lugar; do lugar mais importante de minha infância. Minha e de muitos...
E foi assim...eu diria, bem assim...
-Naquela tarde de verão que desde seu início, ainda encostadinha e avizinhada da manhã de mesmo dia, numa tarde quente por demais, quando saindo para pescar; eu, e mais uns dez amiguinhos, igualmente FELIZES, sem saber da extensão, do quanto éramos ... (mas que hoje, eu sei bem!)
-Retornando dessa pesca raiz (lembra disso minha SAUDADE, lembra?), suando feito “uns condenados” libertos e absolvidos por nossas sorrateiras meninices, correndo contra um ventinho fagueiro, leve e abençoado, até que de longe avistamos um pé de vergamotas amarelinho, amarelinho; apinhadinho de laranjas cravas madurinhas, ás margens da estrada de chão batido e encascalhada de pedras, espalhadas pela prefeitura, no morro de onde descíamos...
-E aí foi um empurrando inocentemente o outro, nas vezes que nunca passavam de uns arranhões rolando ladeira de campo grama abaixo, donde se dizia como dito popular: -“...vai ser bom, para crescer “.
Depois jogando-se no chão, todos; e como uma maquinha de triturar, com nossas boquinhas nervosas, devoramos ‘umas’, cinquenta e tantas laranjas (ah, mas foi mais...muito mais laranjas), intercalando com três ‘pencas’ grandes de bananas apanhadas do pé, bem amadurecidas no cacho, sendo que algumas, bicadas por passarinhos.
[Meu Deus, e como tinham vários deles! De todos os tipos, de todos os cantos e de todas as cores; a coisa mais linda aquilo tudo]
-E o que dizer dos bons papos, desdobrados nos bolinhos de conversas em nossa roda, dos amigos da rua. E para quem nos ouvir falar hoje tais coisas, não irá entender nada; e ainda vai pensar serem doidices; baboseiras...uma porção de lorotas e asneiras, gritadas e contadas, tudo em mau português, por um monte de malucos, um bando de bichos do mato! Mas que tinham, sem sabermos (isso, eu sei que tínhamos) o código, a senha e o segredo do coração, da alma e da vida eterna, num tempo que se era permitido ainda viver e sonhar!
Ah, e o que dizer de quando à mesa aguardando a" bóia santa" de nossa mãe, ao lado do fogão de lenha, sempre aquecido, antevendo e nos resguardando das noitinhas rigorosas de inverno, por vir.
Tudo estrategicamente pensado e programado, antes que o pai chegasse da Companhia.
-Com todos já de banhos tomados, limpos, cabelos perfumados e penteados, lambidos e repartidos, esperando secar no tempo, aproveitando para repassar o dever e a lição da escola, para depois, assim que jantássemos; em seguida, sem não aguentar mais, cair de fato na cama, e dormir.
"Claro! Isso após nossa mãezinha, naquele seu ritual de amor diário, a nos cobrir com um acolchoado de penas, feito à mão, bem pesado de dar suador. E aí sim, dormir o sono dos justos.
VOCÊ SE LEMBRA AINDA DISSO....?
SE LEMBRA, MINHA SAUDADE?