O amor está no ar
A tarde vem caindo de mansinho e o tom gris do dia anuncia que o Sol não demora a se pôr. Distante, num azul melancólico, a serra se estende até o horizonte. Em algazarra, a passarada busca o aconchego dos ninhos. Nesse instante, a natureza se faz bela e a beleza das flores não passa desapercebida. Ipês floridos espalham um tapete amarelado pelo chão, deixando no ar seu embriagante perfume. A leve brisa agita as folhagens e flamboyants se exibem com o colorido avermelhado de suas flores. Nesta paisagem bucólica, voando de flor em flor, o zum zum zum dos insetos soa como melodia e assim, promove um singular cheiro de romance no ar.
Nesse ambiente inspirador, um homem caminha apressado, trazendo no peito um coração palpitante, saudoso da mulher amada. A ausência fora longa e a espera do reencontro é um martírio. Será que ela também espera por mim? Ao longe, ele avista uma casa grande. O telhado enegrecido dava a ela um ar sombrio; as paredes, desbotadas e corroídas, resistiam à ação do tempo; a porta e as janelas, tão grandes quanto a casa, apresentavam um cinza desgastado, opaco; no terreiro de chão batido, um jatobá centenário completa o cenário. Tudo estava como antes. Uma das janelas se abre e uma formosa figura feminina surge. Os longos cabelos negros, sedosos, caem sobre um alvo colo macio, aveludado. No rosto bonito, um par de olhos castanhos enfeitam ainda mais aquela linda mulher. De repente, os olhares se cruzam e quase se pode ouvir as batidas de seus corações. Um largo sorriso se esboça em cada rosto e eles correm ao encontro um do outro e se abraçam e se beijam sofregamente. Era o fim dos dias de espera. Felizes, entram na casa. No horizonte, atrás da serra, agonizante, o Sol insiste em ficar. Mas, assim como o tempo que nada espera, implacável, a noite chega, escurece.
Ranon Machado