Sensações Colossais
Carreguei em mim sensações colossais
Quando nada mais era que doce quimera,
Quando tudo escorria por luz que vivia,
Nada mais selando que alma em tela.
Vinde a mim a escuridão do quebranto,
A palavra forte com raio acalanto,
Aclimatando as eras da terra que parte,
Carregando em si o amor, minha arte.
Você que ergue os braços num sorriso agudo,
Que parte o fio que encerra o mundo,
Que carrega o solo que fere a vida,
Que protege a sina da brisa pequenina.
Ah, se meu amor mais não fosse que encanto,
Se meu ardor se quebrasse num canto,
Se as sensações que me perseguem
Fossem sonhos delirantes,
Eu ficaria no ar,
Perseguiria Gibraltar,
Na senha surda da grosseria,
Apenas para cavalgar as pradarias
Da noite velha da primavera.
Eu que sou louco por tudo que me diz respeito,
Que não consigo sentir mais do que tenho no peito,
Que aspiro por passos que nada me falam,
Que tenho na carne espinhas que são anzóis.
Peça-me o sonho que dou-te o ar,
Olhe-me tristonho que fico a chorar,
Nadadeiras abertas pro além-mar,
Viro tez deserta para o habitar.
Tíbio, sim, fico tíbio,
Como o caracol na beirada do muro,
Pregando a vida de viver tão seguro,
Que nada mais é que um pária assumido.
Sim, meu sol sustenido é o ar de sua graça,
Que me tolhe o peito, que me faz arruaça,
Como quem nada quer, mas metendo a colher.
Você, verdura da minha horta,
Meu céu de abacate.
Se eu tivesse arte, te trazia inteira
Para junto de mim numa sexta-feira...
1999