Abismos da Alma

Ali, diante de minha cadeira,

Pertinho do meu abajur,

Rastejam as emoções mais vis

Dos seres humanos...

 

Entidades abissais povoam esses abismos...

Nadando entre elas,

Esgueiram-se emoções sublimes,

Salpicando de luz esses infernos coloridos.

E nesses gemidos reconheço o eco dos meus gemidos,

Passados, presentes e futuros...

 

Da secular matéria amorfa da alma

Surgem emoções desencontradas

Que vão se agrupando,

Ganhando proa, quina, casco,

Passam a navegar à deriva

Num mar que estou criando.

 

Correntezas afetivas que vêm e que vão,

Rotas amorítimas do meu coração.

Cada um faz o seu mapa, a cada qual o seu tesouro,

Passam por dentro de mim emoções avassaladoras,

Mas mantenho meus músculos do rosto sob controle,

Só não impeço que fique em mim o rastro de suas passagens...

Essas pegadas que me invadem...

Que alguém deu o nome de SAUDADE...

 

19/06/1987

Marco Lirio
Enviado por Marco Lirio em 31/05/2024
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