Abismos da Alma
Ali, diante de minha cadeira,
Pertinho do meu abajur,
Rastejam as emoções mais vis
Dos seres humanos...
Entidades abissais povoam esses abismos...
Nadando entre elas,
Esgueiram-se emoções sublimes,
Salpicando de luz esses infernos coloridos.
E nesses gemidos reconheço o eco dos meus gemidos,
Passados, presentes e futuros...
Da secular matéria amorfa da alma
Surgem emoções desencontradas
Que vão se agrupando,
Ganhando proa, quina, casco,
Passam a navegar à deriva
Num mar que estou criando.
Correntezas afetivas que vêm e que vão,
Rotas amorítimas do meu coração.
Cada um faz o seu mapa, a cada qual o seu tesouro,
Passam por dentro de mim emoções avassaladoras,
Mas mantenho meus músculos do rosto sob controle,
Só não impeço que fique em mim o rastro de suas passagens...
Essas pegadas que me invadem...
Que alguém deu o nome de SAUDADE...
19/06/1987