A Garota do Sétimo Andar
Naquela parada janela da noite
habita a garota dos meus sonhos
e por ser um sonho tão triste e tristonho
não importa a janela que é dela
Importa a dor do encontrar...
sendo reflexo do desconexo
essa procura sem par
de uma garota tão louca
que jamais vou encontrar
Mas não desisto, não posso
me alimento da esperança
de um dia poder olhar
pra esse vulto de criança
pra garota do sétimo andar...
Pra que servem os sonhos
senão pra com eles sonhar
pra dar sentido à vida
pra lamber sem se molhar
Eu e meu amigo sonhamos
com a garota do sétimo andar...
Não importa a janela
muito menos o andar
importa a porta que abre
na esperança do olhar
Se ao menos me viesse nos olhos
vislumbre do seu amar
acabaria o encanto
da garota do sétimo andar
Ela não pode viver pois não é carne
é fruto de um eterno esperar
da ilusão que empurra a gente
pra vida a gente aguentar
Ela não é feita de feira
cheiro feérico ou gritos a espoucar
ela habita as pradarias
as legiões do meu sonhar
Não tem dentes escovados juntos
nem o seu hálito pra respirar
pois donde ela se encontra
só há versos a sussurrar
Deixem ela, não a destruam!
ela me faz afirmar
que a vida tem um sentido
que tem um sentido no ar
Sinto a dor de um lamento
e me ponho a lamentar
que a garota por quem procuro
seja aquela do sétimo andar...
Nada como a dor do impossível
pra poder nos contentar
e mostrar que o que é possível
nos é proibido gostar
As luzes se apagam uma a uma
o prédio em frente na escuridão
minhas pernas tremem na espuma
escura e dura da solidão
Saber-se condenado ao amor eterno
de uma janela perdida pro infinito
é saber ter na boca presa um grito
sem ter garganta para provocá-lo
Acende uma janela com luz tosca...
um vulto se põe a esgueirar...
olho com meus olhos de espelho
pra garota do sétimo andar
Ela está comigo, bem presa por dentro,
eu preciso me libertar
da solidão de quem ama
sem sequer saber amar...
Quem sabe algum dia eu encontre
a garota do meu buscar
e que se faça o click mágico
sinalizando no ar
Que o meu destino chegou
que dessa vez eu vou ficar
e num abraço forte eu me conforme
como se conforma o luar
que a sua luz não é luz própria
que vem de fonte distante
que não emana de si dentro
mas sim de um sol errante
aí não amarei a mim mesmo
e num salto equidistante
estarei diante da luz
do que me fez caminhar
da minha busca eterna
da garota do sétimo andar...
1987