Cisão

Eis a dor de uma solidão,

Que se entrega calada, conhecedora da própria sorte,

Que se apercebe, doída, dos contornos tristes da espécie.

Eis a forma de incompletude,

Que se mostra escancarada,

Sem a menor timidez,

Impondo a verdade escondida, que fere, que fere...

Eis a certeza procurada,

Que fica apontando o caminho.

A dor é a única estrada,

Há de se viver com o mais duro espinho.

E tem o riso, o carinho,

Jogando espumas e toalhas,

Lambendo farpas e tachinhas.

Fico cismando, inconformado,

Contenho o pranto, contenho o grito,

Transformo a sorte do meu protesto

Em mais uma forma de solidão.

E você, alma amiga, fica comigo,

Sentindo o que é sentido por todos nós.

E a paz, esta promessa feita de nuvens,

Surge erguida pela esperança, corre na frente,

E nunca se cansa, eterna criança.

Percorrem-me ventos pelos cabelos,

Sinto o doce frio do arrepio,

Neves de gotas, gotas de lágrimas,

Lampejam quentes, rolando rápidas,

Fluidas, despidas, dissociadas,

Na busca inútil da minha amada.

 

 

 

 

 

 

 

Marco Lirio
Enviado por Marco Lirio em 28/05/2024
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