Cisão
Eis a dor de uma solidão,
Que se entrega calada, conhecedora da própria sorte,
Que se apercebe, doída, dos contornos tristes da espécie.
Eis a forma de incompletude,
Que se mostra escancarada,
Sem a menor timidez,
Impondo a verdade escondida, que fere, que fere...
Eis a certeza procurada,
Que fica apontando o caminho.
A dor é a única estrada,
Há de se viver com o mais duro espinho.
E tem o riso, o carinho,
Jogando espumas e toalhas,
Lambendo farpas e tachinhas.
Fico cismando, inconformado,
Contenho o pranto, contenho o grito,
Transformo a sorte do meu protesto
Em mais uma forma de solidão.
E você, alma amiga, fica comigo,
Sentindo o que é sentido por todos nós.
E a paz, esta promessa feita de nuvens,
Surge erguida pela esperança, corre na frente,
E nunca se cansa, eterna criança.
Percorrem-me ventos pelos cabelos,
Sinto o doce frio do arrepio,
Neves de gotas, gotas de lágrimas,
Lampejam quentes, rolando rápidas,
Fluidas, despidas, dissociadas,
Na busca inútil da minha amada.