Verme do Silêncio
Amo minha incoerência,
Meu gesto frio,
O jeito calado de olhar de lado.
Viva toda a forma de contestação!
Que assim busca a maneira dialética
De dizer a verdade
Com toda a vontade.
Odeio o verbo vazio,
A retórica inútil dos dias de bar.
Sou o verme do silêncio
Que corrompe o papo podre
De um bêbado a vomitar.
Amo meu ser abstrato
Que se abstém das explicações tolas,
Que critica sórdido toda a podridão
E é parte dela.
É ser do lamaçal,
Amo toda ruindade
Que é desprezada,
Que vive amordaçada
Por ser corrompida.
Do desarvorar, do desagregar,
Viva o fértil, o etéreo,
Aquilo que brilha sem brilho,
O ineficaz do ineficaz.
Sou da sociedade do útil,
Da gente dos mil consumismos.
Sou o ser dos artifícios,
Sou artefato de massa,
A cada instante eu necessito
De viver necessitando.
Este é meu verbo, minha tabuada.
Sou gente imponente, competente,
Bom menino, gente de valor.
Mas este odor que exalo,
Este odor competitivo,
Mexe comigo.
Não sei se estou vivo,
Se vivo estou...