Verme do Silêncio

Amo minha incoerência,

Meu gesto frio,

O jeito calado de olhar de lado.

Viva toda a forma de contestação!

Que assim busca a maneira dialética

De dizer a verdade

Com toda a vontade.

Odeio o verbo vazio,

A retórica inútil dos dias de bar.

Sou o verme do silêncio

Que corrompe o papo podre

De um bêbado a vomitar.

 

Amo meu ser abstrato

Que se abstém das explicações tolas,

Que critica sórdido toda a podridão

E é parte dela.

É ser do lamaçal,

Amo toda ruindade

Que é desprezada,

Que vive amordaçada

Por ser corrompida.

Do desarvorar, do desagregar,

Viva o fértil, o etéreo,

Aquilo que brilha sem brilho,

O ineficaz do ineficaz.

 

Sou da sociedade do útil,

Da gente dos mil consumismos.

Sou o ser dos artifícios,

Sou artefato de massa,

A cada instante eu necessito

De viver necessitando.

Este é meu verbo, minha tabuada.

 

Sou gente imponente, competente,

Bom menino, gente de valor.

Mas este odor que exalo,

Este odor competitivo,

Mexe comigo.

Não sei se estou vivo,

Se vivo estou...

Marco Lirio
Enviado por Marco Lirio em 28/05/2024
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