SORRATEIRO
Este sentimento de ser poeta me invade sorrateiro.
Luto contra meu destino, pois não o tenho como meta.
Mas a natureza é forte e me impele inteiro.
Já não tenho pele, e os poros explodem em metáforas.
Tento controlar as pulsões da escrita.
Numa arrogância insana, detenho o tinteiro.
Mas nada impede o bramir das emoções;
Elas transbordam, ecoam em mil canções.
Passo a passo, luar pós luar,
O poeta se inflama,
Se apossa do meu corpo
E clama:
Que nada é mais lindo
Que o amor,
Nada é mais belo
Que o sol a se pôr.
E lá se vão anos de contida cibernética,
Lá se vão neurônios estelares pré-frontais.
A pele se arrepia,
O coração tartamudeia.
Vai, poeta, canta!
Deixa ser o que tem que ser.
Destrava o que se revela.
Ao amor, acende uma vela.
Vá viver, que a vida assim é mais bela.