Vento

Vento que sopra da minha alma,

furacão inadvertido que vive comigo,

devassa minha calma,

desvenda meu umbigo,

bota minha ansiedade no bolso

pra servir ao seu sofrer.

A tua existência é o meu freio.

Freio que te quero feio

pra ficar bonito.

Minha existência é um mito

naquilo que acredito,

faço-o constrito.

 

E há que soltar a emoção,

pois vela que te quero vela,

soltando as caravelas.

Vilarejo do meu solfejo,

quero vitrines a trincar.

Nada que me move leve

faz da poeira o meu reinar.

Quero a arte do bom combate,

pois da vida levo o que me faz chorar.

Choro com teus soluços, engulo,

pois do seu mergulho

olho outro ponto a chegar.

Vida que te quero vida,

pois nada da vida

me é tão peculiar

quanto a vontade sofrida

de te ver cantar.

 

Canto que te quero tanto

que nem mesmo o pranto

me borbulha o mar,

mantendo a vontade altiva

de te dar a vida

em trinados gástricos

e pulsantes elásticos

de uma paixão a tiritar.

Nada me é mais leve

que a leve ausência

de seu despertar.

 

Amo que te amo quanto

que nada se atreve

a me fulminar,

porque de ti quero inteira

a madeixa mais perene

que me alise o olhar.

Você é fonte secante,

é medo torturante

de querer mergulhar

num poço de ócio sem fundo,

só pra te ter inteira,

sem eira nem beira,

poder desfrutar

a loucura que é te amar!

 

Marco Lirio
Enviado por Marco Lirio em 27/05/2024
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