Vento
Vento que sopra da minha alma,
furacão inadvertido que vive comigo,
devassa minha calma,
desvenda meu umbigo,
bota minha ansiedade no bolso
pra servir ao seu sofrer.
A tua existência é o meu freio.
Freio que te quero feio
pra ficar bonito.
Minha existência é um mito
naquilo que acredito,
faço-o constrito.
E há que soltar a emoção,
pois vela que te quero vela,
soltando as caravelas.
Vilarejo do meu solfejo,
quero vitrines a trincar.
Nada que me move leve
faz da poeira o meu reinar.
Quero a arte do bom combate,
pois da vida levo o que me faz chorar.
Choro com teus soluços, engulo,
pois do seu mergulho
olho outro ponto a chegar.
Vida que te quero vida,
pois nada da vida
me é tão peculiar
quanto a vontade sofrida
de te ver cantar.
Canto que te quero tanto
que nem mesmo o pranto
me borbulha o mar,
mantendo a vontade altiva
de te dar a vida
em trinados gástricos
e pulsantes elásticos
de uma paixão a tiritar.
Nada me é mais leve
que a leve ausência
de seu despertar.
Amo que te amo quanto
que nada se atreve
a me fulminar,
porque de ti quero inteira
a madeixa mais perene
que me alise o olhar.
Você é fonte secante,
é medo torturante
de querer mergulhar
num poço de ócio sem fundo,
só pra te ter inteira,
sem eira nem beira,
poder desfrutar
a loucura que é te amar!