Passarinho
Quem quer que sinta o vento passado...
Sabe onde vou?
Ando pela brisa,
E na luz primeira
Vais me encontrar.
Sou o sentimento
De um só momento
E, escuta,
Ele é teu.
Ambos os dois,
Prenúncio do mim mesmo
Que virá depois.
Olha, sabe o que é viver?
É não se preocupar com isto.
É ter olhos de passarinho
E no fim da tarde,
Pousado num fio qualquer,
Cochilar cansado,
Balançando o pé.
É por isso que eu canto,
Porque sou passarinho,
E no meu canto sinto tanto,
Pois é natural...
O meu voo é natural,
Como natural é o meu silêncio.
Até o meu piado triste
Ressoa da forma que sou.
Por isso tu cantas comigo,
E assim, sem perceber,
Nos perdemos
Num mar de inteiros,
Formados, ligados a viver...