Dor

Não sou acostumado à tristeza

Meu semblante não se adequa a ela

Não me pertence tal sentimento

Muito menos quando quer se instalar

Querendo minha alma respirar

Mas sentimentos não respiram

Diz meu peito inflado

Sentimentos sentem e pacificam

Por que essa dor tão de outrora

Cisma em me fazer de masmorra

Batendo, batendo, batendo

Insolente e sem respeito

Tornando-se dona do meu leito

Quero minha vida adocicar

Escapar de mim mesmo assim sofrido

Quando nem um sol sustenido

Consegue me pôr a chorar

Quero a paz dos parquinhos da infância

O balançar dos balanços da esperança

A risada brejeira e maneira

As estrelas da noite ao despertar

Mas não... tenho que por isso passar

Pela primeira vez defrontar

Comigo mesmo, meus cílios, meu olhar

Mudar a direção do pensamento

Dar um cavalo de pau num momento

Para num espelho encarar

Que não sou tão belo por dentro

Que minha alegria não é unguento

Mas um dia vai passar,

Essa dor infinita que me devora,

Faz escaras e não vai embora

Me torna mais forte ao relento

E passo a passo encontro comigo

Abraço tenso meu melhor amigo

E fico quietinho num canto

Sorvendo este novo esperanto

Nesta língua da magia

Esperando a poesia

Vir com suas pétalas me acenar

Dizendo: você cresceu e morreu

Mas está vivo, meu querido

Assim eu desmancho num mar

Aprendendo com febre a amar

Marco Lirio
Enviado por Marco Lirio em 27/05/2024
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