Dor
Não sou acostumado à tristeza
Meu semblante não se adequa a ela
Não me pertence tal sentimento
Muito menos quando quer se instalar
Querendo minha alma respirar
Mas sentimentos não respiram
Diz meu peito inflado
Sentimentos sentem e pacificam
Por que essa dor tão de outrora
Cisma em me fazer de masmorra
Batendo, batendo, batendo
Insolente e sem respeito
Tornando-se dona do meu leito
Quero minha vida adocicar
Escapar de mim mesmo assim sofrido
Quando nem um sol sustenido
Consegue me pôr a chorar
Quero a paz dos parquinhos da infância
O balançar dos balanços da esperança
A risada brejeira e maneira
As estrelas da noite ao despertar
Mas não... tenho que por isso passar
Pela primeira vez defrontar
Comigo mesmo, meus cílios, meu olhar
Mudar a direção do pensamento
Dar um cavalo de pau num momento
Para num espelho encarar
Que não sou tão belo por dentro
Que minha alegria não é unguento
Mas um dia vai passar,
Essa dor infinita que me devora,
Faz escaras e não vai embora
Me torna mais forte ao relento
E passo a passo encontro comigo
Abraço tenso meu melhor amigo
E fico quietinho num canto
Sorvendo este novo esperanto
Nesta língua da magia
Esperando a poesia
Vir com suas pétalas me acenar
Dizendo: você cresceu e morreu
Mas está vivo, meu querido
Assim eu desmancho num mar
Aprendendo com febre a amar