Lápide
Senti-me como o mármore bruto, sujeito aos caprichos do hábil escultor, cujo cinzel cortava com precisão. Cada golpe era uma metamorfose, uma agressão necessária para revelar a forma ideal latente em mim. A dor era real, mas temporária, um preço a pagar pela perfeição que surgia a cada lascado. O escultor, com maestria, não se detinha, penetrando fundo com seu cinzel afiado. Não sangrava, mas a dor era tangível, a cada fragmento removido. E assim, de repente, eu me via pleno, mas apenas como uma estátua solene, guarda da lápide fria de um cemitério, testemunha silenciosa das mãos que me moldaram com amor e rigor.