Livre-Arbítrio
Onde não há liberdade, as algemas são veneradas, e o chicote é idolatrado num altar cercado por grades, onde são continuamente sacrificadas a esperança, a alegria e o futuro. A liberdade não entoa cânticos na gaiola dos tiranos, nem se prostra diante da morte; ela exulta apenas com o sopro do vento que a transporta para todos os rincões. A liberdade não possui sexo nem cor; ela toma o desjejum na favela, almoça com o rei e janta na relva das praças, contemplando as estrelas.
A liberdade repousa com os mendigos e desperta em um leito real. Obedece às leis quando está "encarcerada" e a Deus, alçando voo em suas asas. A liberdade ama a realidade e dá conselhos à loucura; penteia seus cabelos indomáveis diante do grande espelho iluminado e atravessa o deserto ignorante e escuro, guiada apenas pelas batidas do seu próprio coração.
A liberdade canta com os tolos e reza com os humildes. Dança um blues com uma meretriz e uma valsa com uma pudica. A liberdade caminha sempre desnuda, mas costura as vestes do imperador e cinge os trapos dos moradores de rua. A liberdade não tem CPF nem ideologias; ela me dará o último banho, vestirá minha última roupa e me conduzirá à minha última morada. Visitar-me-á a cada primavera, quando a chuva cessar e as flores estiverem abertas sobre minha cova, perfumando a vida, que é a verdade livre, nunca aprisionada nas masmorras construídas por mãos humanas.
Alexandre Tito