Embarques de adeus
É curioso como sempre acabo me encontrando aqui.
Observando o porto, as orlas, o mar.
Com uma nostalgia e imensidão que não cabem em mim.
Como se meu coração fosse explodir e ir de encontro às águas.
Já observei tantas partidas.
De alguma forma, para me poupar da dor de mais uma, eu adianto as coisas e levo pessoalmente cada pessoa que passa pela minha vida rumo ao embarque e aceno um adeus.
Muitas vezes elas nem entendem o que está acontecendo, mas seguem viagem mesmo assim.
Me acostumei a me despedir.
Me acostumei a dizer adeus.
Me acostumei a visitar meu amigo mar e juntar minhas lágrimas a ele, e a vê-los levarem embora pedacinhos preciosos do meu coração.
Eu sei que sou eu mesma que compro o bilhete de passagem que leva a todos para longe de mim.
Eu sei que sou eu mesma que faço as malas, que abraça e diz adeus.
Eu me acostumei a me despedir.
Eu me acostumei a dizer adeus.
Eu me acostumei a evitar a dor.
Eu me acostumei a evitar.
Eu me acostumei.
Ainda assim a dor está aqui.
Meu amigo mar, somos só nós dois agora.
É final de tarde.
Te contemplo, e contemplo o tracejar da embarcação sobre ti,
E contemplo os pequenos pedaços do meu coração indo embora numa viagem de adeus paga por mim mesma.
"Ao meu amor: obrigada, e me desculpe o transtorno e o turbilhão.
Eu te amo."
(Gênnifer Gonçalves)