Oásis
Rascunhos. Papéis amassados. Folhas em branco. Nada! Há dias busco uma poesia. Queria escrever bobagens, belezuras, homenagem póstuma, quem sabe, uma carta de amor. Nada! As palavras estão exigentes, desconexas, totalmente fora de sintonia. Não há força capaz de romper esse bloqueio. Existe a vontade, desejo e até inspiração. Mas, nada floresce. Então me aquieto. E compreendo. É preciso honrar o momento vazio. É preciso respeitar e honrar os dias de estio. Tudo parece seco. Infértil. Nem água, nem sementes, nem frutos. Nesse deserto é onde ocorre a transmutação. O processo de cura muitas vezes será desconfortável. Desse incômodo nasce uma força inesperada. É esse o agora. Vazio. Silêncio. Deserto. Sinto germinar bem lentamente uma nova mulher inteiramente desconhecida ainda que carregada das minhas memórias mais verdadeiras. Estranho essas palavras arranhando a garganta, querendo ocupar todos os papéis em branco que encontrar pela casa. Nada! O tempo é de espera. De fé. De certeza que toda tempestade passa. E em todo deserto sempre é possível encontrar um oásis.
*Si*