Inflamável

Mares de silêncio. Palavras aprisionadas. Tem tanta coisa que eu queria te dizer. Quem sabe eu poderia escrever cartas. Abrir meu coração. Derramar minhas fraquezas.Te contar cada detalhe. Não sei se você entenderia. Nem sei se quero me fazer entender. Mas, não. Eu não vou invadir o seu universo com o meu caos. Preciso conter essa minha insistente mania de afastar as pessoas, erguer muros, construir fortaleza, destruir pontes, instigando cada vez mais o meu desejo primitivo de ser amada. Parece um grande paradoxo, eu sei. Porém, foi me isolando, me protegendo que eu sobrevivi aos meus piores dias. Foi do alto da torre que eu superei os medos mais sombrios, e cresci. Me permitindo explorar novos caminhos e me arriscar para além da zona confortável, e dolorida. Foram tantas conquistas, estreias, novidades. E, assim, de repente, o mundo parou. Eu não desci. Segui em frente como foi possível. A escolha foi sobreviver, nada mais. Do outro lado, no entanto, a inércia trouxe a sensação de retrocesso. A serenidade veio adornada de vazio. Eu não compreendo. Nasceu aqui esse complexo de sentimentos. Tudo isso que eu queria partilhar, mas sei que  não posso. Eu já não sou mais a mesma. Minhas vestes não me servem mais. Ainda assim existe essa fronteira, esse limite que parece intransponível. Não importa o quanto avance, eu sempre tropeço no mesmo lugar. Melhor guardar tudo isso de volta no baú. Sentir demais por ser altamente perigoso…

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 20/04/2024
Código do texto: T8045981
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