O abismo da consciência & a matéria do campo nos leva a possibilidades com a imaginação
Entreguei-me a uma cruel Sofia, que nada entrega além da silenciosa esperança, que nada retribui para além da fria idealização. Àquilo que é ideal: a conceituação concebida no horizonte a partir da porta que consigo abrir! A chave que me entregas está deveras aquém do que almejo e a melancolia ainda me consome, como um filho sempre longe de casa, separado da mãe por uma vil promessa de um dia falar e ser, o portador da língua e da linguagem com que Deus escreve o universo. Dizem alguns que sou brilhante, outros genial, alguns outros acolá muito inteligente e mais alguns aqui sonhador, mas o que ninguém diz ou cogita falar e o que por vezes penso que sou é um nada a ambicionar a altivez de ser.
A minha alteridade horizontal me dilui, a minha obsessão afasta de mim àqueles que mais aprecio e a minha sensibilidade de não ser em ser me faz apenas confessar isso em poética, em uma insolente poiesis... Talvez haja algo para além disto tudo, mas sair da ilha e a olhar de fora é o que faço e custa muito, apenas pouquíssimos o fazem. Sinto-me incompreendido por deveras, jogado ao canto de um quarto escuro por uma prepotente coação social que prega sempre o bem mais valia. Valeria a pena não ser-me? Ser-se a si mesmo tão cara pessoa é o que devemos almejar. Meu propósito é ajudar com o que faço aquilo que ainda será problema. Meu propósito é pôr a mesa uma peça que ainda não foi reconhecida como tal, um jogo cujas regras são as minhas, antropomórfico logos da rebelião.
Entrego, pois, a solução do problema não-cogitado, com uma a-existência, isto é, sem realidade material e formal (que não seja a minha). Tudo isto para apenas tornar nítido apenas a minha "estúpida" sensibilidade que me faz grande, ao observar o pequeno e o inútil, como a poesia de Barros e as singelas éclogas dos pastores a pastar o verde campo da utopia. Eu imagino um dia falar, assim como More, que pastei no mesmo campo com o possível da minha estrutura lógico-matemática e dizer aos quatro cantos que eu vi daquele canto escuro o mundo e a ilha, com isso, o futuro.