A todos os Acanhados

Ó! Acanhados! Como são belos os vossos intentos! Mas, a beleza verdadeira está na incapacidade de pô-los em prática!

Sim, acanhados, a prática é sublime e visivelmente inalcançável.

Cada situação que passais traz um sabor delicioso ao trágico. Cada momento é como se tentásseis alcançar o Sol enquanto sois tragados para o fundo do oceano da paralisia.

Diante do desejo, são aqueles que contemplam, postergam, choram, recusam, esperam, preparam e preparam e preparam um elaborado palco para uma peça sem data para estrear! Tudo é um preparo e uma contemplação.

Mas, posso dizer do alto do pertencimento à essa estirpe, que de todas as situações, a mais terrivelmente bela é a do ato de se apaixonar…

Ó! Acanhados! Sois aqueles desejosos pela pessoa amada, seu calor, seu amor, seu desejo, seu carinho, seu abraço, sua confidência e confiança, mas nunca deixais de serem meros satélites de um planeta completamente alheio às vossas intenções.

Imaginais, projetais, arquitetais, preparais, ensaiais, ansiais, contemplais e contemplais e contemplais. No entanto, nunca fazeis nada para, efetivamente, aplacar a dor de vosso coração!

Acanhados dançam a Dança Rotacional do Amor Acanhado. Esta arte consiste na alma apaixonada observando uma fonte de onde brota a água pra sua sede através das janelas de seu templo que gira em torno dessa formosa estrutura. Sempre se aproximando e se afastando, sem nunca chegar a dessa água beber. O afastar-se e aproximar-se é conduzido por Cronos e Kairós. O primeiro, lentamente empurra o templo para longe da fonte, enquanto o segundo, o empurra de forma abrupta e rápida para muito próximo, ou até mesmo quase ao toque das águas. Porém, ao mesmo tempo que a alma grita de sede por de trás das janelas, o desconforto da aproximação é tão grande que o templo precisa ser arrastado por Kairós, enquanto que se deixa levar passivamente por Cronos.

Essa dança de quatro elementos é algo extremamente belo que vós, ó acanhados, produzis. Esta beleza pode se desenhar pesadamente até a ruina, ou pode trazer um fenômeno de graça insuperavelmente maior!

A alma, além da sede lancinante que sente, ainda está nua, consciente disso como Adão e Eva, coberta pelo manto de rosas da ansiedade, que faz sangrar sua carne, e com o pesado elmo do desespero, que consome suas forças.

Mas a alma tem um coração e é dele que são bombeados os pequenos gestos de amor para fora de seu corpo através de suas chagas e escorrem pelos muros do templo. É como um sangue vivo que busca insanamente se misturar com a água da fonte na esperança que esta encontre o caminho para os lábios de sua genitora.

A beleza maior, que só vós podeis produzir, é a explosão sublime do coração que destrói o manto e o elmo, demole o templo e é capaz de forçar cada músculo da alma a projetar aquele corpo no ar, empurrando Cronos e Kairós, tomando o destino nas mãos e mergulhando na paz das águas daquela nascente! Então, apenas neste momento, a fonte encontrará seu destino: secar ou permitir que floresça um jardim ao seu redor.

Em ambas as situações, finalmente tendes, da forma mais complicada e exagerada, a simples e binária resposta para o vosso anseio…

Essa apocalíptica beleza, nas duas possíveis situações, produz a beleza da liberdade de achar outras fontes e a beleza da liberdade de se unir com seu desejo, mas sem se sublimar ou deixar de existir como indivíduo, pois, do contrário, se afoga nas águas do amor e morre.

Ó! Acanhados! Rogo para que os corações de vossas almas explodam, rogo por mais amores e de mais amores a Terra precisa. Amais, deixais serem amados, existis e imponhais vossa existência ao mundo, com respeito, boa vontade, amor e bom senso! Vivais o amor, vivais até que este morra, o que não é o fim para vós, ou que venha a vós a morte, o que não é o fim para o amor…

Carapuça
Enviado por Antonio Core em 11/04/2024
Reeditado em 08/06/2024
Código do texto: T8039756
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