OUTONO NAS POÇAS D’ÁGUA

 

O olhar carinhoso do outono e suas mãos cobertas de tintas são uma de minhas paixões, meu deserto... Ausência de imagens e telas que aos poucos recebe a espátula do vento, outonal sussurro; prosa poética escrita no adormecer das verdes folhas das árvores que despertam com as texturas em tons de “Terra di Siena” e bordô - feito vinho a deslizar na taça, num translúcidos e encantado bailar de lembranças...

 

Amo observar esse tapete que as folhas tecem ao despedirem-se dos galhos, esse voo que pousa silente nas calçadas, nos telhados e nas poças d’água. O outono acomoda às reticências nos cantinhos do coração, e as envolve com o aroma daquele beijo inesquecível, tão especial... que em meus lábios o teu sorriso permanece.

 

E assim, aquieto-me e inquieto-me, entregando minha’lma aos aromas recém-chegados com ventos em bordadas letras... e emociono-me ao reler Baudelaire e seu belo poema "O Desejo de Pintar".

 

Paixões são ávidos barcos, pulsando, sem velas que partem de um porto seguro e deixam-se levar ao mar bravio...

 

. Sugestão de leitura: "O Desejo De Pintar" (Charles Baudelaire) versão para o Português e pinturas de Mario Vale, 2008 (1ª edição - Editora Noovha América). O poema O desejo de pintar está na página 26.