Tobias, o romântico
Desabrocha do meu corpo a inevitável sensação antirromântica. Poucos relacionamentos, mas com muitas lições nesses raros relapsos de amor. Ensinaram-me a solidão como verdadeiro cálice que envenena o espírito. Quando avisto os casais em seus açucarados beijos de primavera, sucumbo das entranhas a repugnância dos afetos íntimos. Não tenho culpa do meu instinto maior revelar o nojo por ver gente feliz, saboreando essa felicidade desconhecida. Como desprezado, também desprezo as múmias enganadas pelo instinto reprodutivo. Mal sabem a imensidão depressiva que o futuro lhes reserva. Sou um mal amado, mas ainda apaixonado pelos fatos.
O prazer concupiscente é inútil. Vem a angústia por reconhecer o tesão a qual acomete-me por corpos carentes quanto o meu. Na sociedade vertiginosa em que vivo, a tradição dos povos é usar o prazer como moeda de troca; ninguém vale nada, o matrimônio se tornou memória dos atrasados. Não julgo quem pensa assim, em outrora os casamentos eram sobre construções financeiras e morais, não sobre o amor. Os valores morais hodiernos são individualistas, quem age nas próprias barganhas é quem vence.
Gostaria de conceber a ideia da assexualidade, não ter laços afetivos e sexuais com ninguém. Sortudos são os seres assexuais, também os castrados, os frígidos, os castos. Jamais a lira dos vinte anos cantará o idealismo frágil e mesquinho da ideia de um amor perfeito. Abençoados os misantrópicos — estrelas do passado, apagadas pela fome da paixão humana.
Apesar da miséria que a existência das relações nos oferta, sou escravo dos sentimentos. Dedico odes ao não humano, mas estou condenado, como um conjunto embaralhado de contradições, a ser humano. A minha próxima amada a que aguardo sem ansiedade, reservo-lhe a providência melancólica das nossas solidões de corpos. Amo-te e sei que me ama deixando-me só.