Tortura.
Penetrara o sentimento vivente de vida intensa, latente, por entre as minhas veias, nas artérias, e que me abarrotou de anseio do existir. Ora, a morte preenchida do desejo de viver cercou-me, e sinto um cheiro frio. Aquela dor se repercute no corpo todo e preciso dela para sentir, sentir a vida desconstituída de seu caráter. Sucedeu-me uma dilaceração por entre os vasos do meu braço direito, no interior anatômico: o sangue escorre, jorra, grosso e denso, rasgando o tecido e chegando ao pulso, que dói; chega aos dedos, nas pontas, com espasmos pungentes. Desprendeu-se um elemento no íntimo, opulento de dor; que irrompe de frente com força no peito e se alastra, e deteriora-me. Agonia centrípeta. O cérebro dilata, demole-se na sensação do real. Distancio-me; finjo sê-lo. Preciso ser o que abomino, para fugir. Vale-me a autoconsciência? Algo que irrompe e destrói, enternece-me e desmorona-me, por fora e dentro. O sangue da medula transforma-se. Não sinto o odor do sangue, da vontade de vida. O sangue preto circula na carne do meu físico.