Qualquer gota de amor afoga
A parte de mim que te ama pra mim, vai continuar acesa, querendo e cuidando, eterna.
A parte de mim que te ama pra ti, se sufoca e cansa. Fogo pálido. Precisa de sopro.
Uma sabe da outra, e com ciúmes, vivem tentando a devoração mútua.
A primeira é uma imagem guardada. Uma coisa existente primeiro do mundo, depois pra dentro. Uma câmera que rouba a luz pra capturar e esquecer o tempo.
A outra é uma história contada. Um eu te amo falado numa terça-feira, lapidado e moldado como pérola de ostra, que de muito penar, se existe.
Se as coisas se misturam e excedem, se não se escutam, e pior, nem se recebem, os dois amores são nenhum. São ruína construída antes da casa.
Fui esse erro. De novo me vi pedra, fraco. Quis ser seu, ser o seu olhar e sua voz, isso me doeu um pouquinho.
Mas se tem uma coisa que fui sabendo com o tempo, é que o primeiro tipo de amor, esse que eu falei que é uma imagem guardada, ele se acomoda na gente, reveste num proposital confundir a pele.
E pode até muito acordar, mas também dorme na gente e de certa forma, é a gente. Um presente da dor.