A hora de chumbo.
Queria uma dor nova que me explicasse tão bem quanto a outra, mas é ainda a mesma antiga, que vai me arrebatando, e desarrumando. Agora são três e vinte e três da madrugada e estou de novo igual. Depositado no escuro fundo. Confuso, entregue, espiador. Achei que eu tinha me domado, achei que tinha enterrado a febre, a estupidez, mas era só uma camadinha de silêncio e distância, finura transparente. Esperando pra ser lembrada. Esperando a hora de chumbo.
Amor é uma soberania própria, uma fronteira diferente, estrangeira, não adianta. É repetir-se e refazer-se, mesmo que a demora leve a gente a achar que já veio o esquecimento. Nunca. Basta o estímulo certo, a voz, o choque elétrico.
Agora é arrumar mais uma vez um motivo pra dizer não, mesmo você oblíqua, já tendo me dado todos. "Quem não enxerga é pior do que quem não vê" um professor dizia e sempre, nunca entendia, agora começo a encostar numa compreensão, uma ainda meio mole, espalhante.
Tenho que ser duro e frio, tenho que sussurrar pra mim que nunca foi, que nunca será. Tenho que ocupar a cabeça, peneirar uma por uma as gotas de chuva.