Personagem perfeito

Bem provavelmente você não faça nenhuma ideia que dia é hoje. Mas eu ainda não esqueci. Revivi os passos rumo ao abismo nesses últimos dias. E até hoje me pergunto como permiti que tudo isso acontecesse. Não faz nenhum sentido. Nenhuma razão lógica pra eu ter deixado você entrar na minha vida. E a sua ausência, muito mais que sua presença, imprimiu em mim, corpo e alma, todas as nossas lembranças. Não sei se por álibi, ou busca de redenção, eu sempre repito pra mim mesma que não foi só a febre insana de uma paixão qualquer. Tudo aquilo era necessário. Muito além de uma escolha, uma decisão. Houve um significado prático naqueles dias tão felizes. Um caminho amplo se abriu rumo a uma liberdade inimaginável. Por você. Com você. Foi o começo da cura. De uma cicatrização lenta, difícil. Que ainda sangra e chora. Persiste a impressão nítida que eu inventei tudo isso. Uma neblina encobre a verdade, talvez as mentiras. Nunca vou saber. Mas, eu já não me importo com o avesso da nossa história. Eu amei. A vida me levou até você. E eu venci minhas barreiras, cruzei os meus medos, atravessei os pântanos da desconfiança. E me lancei. E senti. Intensamente. Cada beijo. Cada abraço. De mim, eu sei. Estava presente, entregue em cada momento. Por mais irracional, absurdo ou sei lá o quê. Eu não me arrependo de nada. E nem enfeito as memórias. Sei do caos. Das inseguranças. Do auto abandono. Mas, eu aprendi tanto! Antes, durante e depois de você. Sim. Valeu a pena. Cada sorriso aberto, puro. Cada lágrima. O mergulho na luz e na escuridão. Fiz de você o meu poema de amor. O meu personagem favorito. Na proteção do seu abraço, eu juntei os meus cacos. E quando você soltou minhas mãos eu já estava pronta pra voar. Hoje essa saudade dói, menos, um pouco menos a cada dia. Quem sabe daqui a um ano eu nem me lembre mais que dia é hoje.

*Si*