Acorde, ou o oceano engolirá você…

"Nós vamos ter problemas”

Essa voz surge no meu ouvido, quando eu estou terminando minha série...

Não... eu não estou maratonando dramaturgias em uma m*rda de um serviço de streaming. Eu estou com 80kg sobre o peito, eu quero levar este amontoado de pele, músculo e tendão ao limite.

Preciso preparar este corpo...

Preciso prepará-lo, para a guerra...

Já é tarde, e eu estou fora de foco. Me sinto com alguém à deriva no mar, perdido no meu penoso merecimento. Então, de repente, sou atingido como um farol na noite. No meio da minha repetição, na metade da minha série, esse sentimento familiar retorna… [a dor].

Ela vem como uma onda, e quebra exatamente sobre mim, cobre-me, no momento mais pleno e sensitivo. Meus sentidos rodam. Sim, eu posso largar tudo, sair fora desta aflição. Em vez disso, ranjo os dentes, respiro fundo, e resisto. Quando as coisas ficam difíceis, muitos têm seu porto seguro. Eu não. Recebo com prazer a dor [que me mantém honesto].

Falando assim, os meus métodos comigo mesmo parecem um tanto quanto questionáveis. Bom, como tudo em mim é questionável, então eu quero mais que se dane. Neste estado caótico, as leis são feitas de aço e as regras de ferro. Aqui, o modo como as coisas são feitas é desagradável, o trabalho é brutal, e o tiro para a glória é extremamente curto...

Agora de manhã, um homem de meia idade me acenou com a cabeça. Ele está na academia, e eu não sei o que ele está pensando. Contudo, observando seu físico, que mais parece uma pilha de rochas, posso ter uma ideia de uma coisa: [é mais um viciado em desconforto.]

Quando ele me acenou com a cabeça, percebi algo: entre nós existe uma relação de respeito que somente homens que respeitam o ferro tem. Quando você está encostado em uma pilha de pesos, você não é nada diferente do cara ao seu lado. Você pode ser um famoso, um milionário ou a p*rra do presidente, e os pesos não dão a mínima pra quem você é. Você será esmagado contra o chão, eles vão tentar enterrá-lo exatamente da mesma forma...

Os pesos são exatamente como a [vida.]

Continuo observando o velho treinar, e já está mais do que claro que faz anos que ele incorporou o processo. Com certeza já foi e voltou do inferno várias vezes. Em seu olhar... ah... eu conheço esse olhar, há um ódio que ele guarda só para esses momentos. Os pesos apreciam o ódio como uma iguaria. Este velho sabe como alimentá-los.

Bom, eu preciso terminar minha série... mas antes, eu vou aumentar a carga dessa m*rda.

Competição? Bom, de fato é, mas não... eu não quero competir com aquele velho aguerrido. A cada dia que passa, nos treinos, a cada série, cada gota de suor que cai da minha testa, eu estou competindo...

E como eu bem sei, estou competindo com o pior! O mais doente e filho da p*ta que existe... eu mesmo.

E essa etapa não é nada mais do que aprender, resistir e manter-se firme. O treino ainda está no início e eu tenho um milhão de coisas a fazer ao sair daqui.

Dormi pouco noite passada, estou cansado e com fome, mas... não é hora de pensar em absolutamente nada. É hora de envolver minhas mãos nessa barra enferrujada e jogar a p*rra do peso pra cima.

Este dia vai ser longo...

Raniel Bomtempo
Enviado por Raniel Bomtempo em 11/03/2024
Reeditado em 12/03/2024
Código do texto: T8017604
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