DESCENDO AOS INFERNOS COM UM PROPÓSITO pt. II
Eis que a noite chega, silenciosa, escurecendo o que já foi dia, esfriando com toques de gelo tudo o que estava quente ao meio-dia. De pronto o pássaro voa, a cobra se arrasta a sair a procura da caça. Quanto ao tempo: o que durará até o amanhecer? Como pode o breu da noite tirar o que tem de pior em você?
Será a escuridão dos teus olhos o reflexo de atos violentos e condenados enquanto a consciência se dissipa na comodidade dos atos efêmeros, tolos e brutais? Não vês que quando a noite chega, traz consigo o sereno que adentra teu corpo umedecendo tua pele e penetrando em ti a luz branca da lua cheia que te convida a refletir?
Não sejas bruto ao se por como animal selvagem sem domínio de si mesmo e condicionado por acontecimentos alheios. Olhe para si e saiba o que lhe falta e tudo o que está ao seu alcance, tudo o que fostes chamado a possuir estando livre do apego que te escraviza em teus medos lhe tornando a presa do teu próprio festejo.
Porque eles vão se sentar à mesa, desejando saciar seu apetite faminto e perverso. Qual decisão tomará você ao escolher servir ou na mesa se pôr para todos comer. Não digas que não avisei, não pense que também não chorei. Pois lhe vi desde pequeno, contemplando os céus tão sereno, com suas vestes caídas e chicotes sangrando no chão.
Hoje teu olhar pede vingança e tua alma se perde na ilusão. Te vejo morrer novamente se escravizando com tamanha paixão. Não vês daqui seu amigo que chora com as mãos estendidas a ver tanta agonia que com receio e pavor lhe tiram da dor, do limo e rancor. Mostrando a você a chave que liberta de toda agonia, tortura e horror?
Não hesite em reconhecer o teu erro, em aceitar a sua culpa e perdoar a repugnância dos descuidos a ti apresentados. A misericórdia está ao nosso lado e a justiça lhe absorve dos teus crimes nefastos. Olhe para mim e saiba que teu lugar não é aqui. Use a chave que lhe entrego, vistas as roupas que lhe ofereço limpando a tua alma junto ao amanhecer de um novo caminho do seu ser.