Lex mors est in vita se intuens
Se entregue ao fluxo do seu ser; a sua essência que é dada, é isto (sic). Não há nada neste tempo que possa tirar-me a certeza de que o meu ser transcende a materialidade e a vulgaridade de um senso comum profano, vil, mesquinho e pobre de alma, de tudo o que é sublime, excelso e belo. O meu eu não é nada além do caminho, da busca e da identificação simbólica com a coisa e o processo até a sua vinda, a constituição da minha identidade é o amor pela obra e pelo processo. Esta conjunção é o meu desfecho e o meu destino. Vós se entregaste a uma teia fantasiosa e imaginária de um descaber ao eterno que nunca te entregará nada a mais que frustração. Sendo eu o caminho e o processo, não posso deixar de acreditar, não posso dar-me ao luxo de não seguir o horizonte do meu ideal... minha vida é uma eterna insatisfação. Sou composto da mesma substância com que o mundo é composto. E eu e ele não nos separamos, pois meu ser é no mundo, com o mundo e com tudo, até que a somatória dos fatos e dos entes por uma absurdidade suprarracional der o todo e preencha o mundo. Assim, o meu ser estará posto e disposto nas colunas da civilização ou acima delas, mas para todo o sempre enquanto durar.
Minha mão irá pôr a doce decisão do sacrifício e da disciplina em tudo o que faço. Tomarei da teia do destino e das moiras o que o meu coração merece. E a pureza de minhas disposições e ações tornarão o árduo caminho um doce deleite, tornarei a mim mesmo a obra inacabada do tudo e mesmo assim completa; sou a luz que ilumina e a sombra que se esconde do julgar. Sou o segredo e a verborragia. A mentira e a verdade. O sagrado e o profano, o infame. A reverência e a irreverência intrépida. O pudor e o impudor daquele que age por agir. Para apenas ter o meu nome na eternidade vi-me no príncipe e na arte da guerra de Napoleão. Dos conceitos de Sun Tzu também estudei. Na erística me debrucei, digo, há muito mais do que os 38 estratagemas. Mas para com a reverência ante o belo, expresso principalmente em grandes compositores como Mendelssohn e Mozart, vi-me no dever de aperfeiçoar-me, lapidar a pedra bruta que é a minha potência. [...] O fogo já me escolheu antes do nascimento e eu com ele nos tornamos um na opus.
Consumo, pois, tudo aquilo que ousa atravessar o meu caminho sem a menor honra e respeito, para com estes, eu apenas torno a minha vontade lei, imperativo. Porquanto, odiei para amar e amei para me resguardar de tudo aquilo que tira da ambiguidade conclusão. Para com todos aqueles que tiram da vida as suas infinitas tonalidade. Para com todos aqueles que não respeitam a singela beleza de uma flor. Eu apenas sinto asco, pena e raiva. Mas ela logo se esvai quando a sublimação mostra-me que sou muito mais do que as pulsões. Quando a arte, a filosofia e a ciência mostra-me o que é belo, o que persiste, em suma, o que vale a pena. Valorando, assim, tudo aquilo que transcende o que é circunstancial, percebo em mim mesmo e em todos o que há de essencial e único. E o "imperativo categórico" a mim mesmo torna-se princípio, ou melhor, o princípio para além do bem e do mal.