Asas de Solidão

E vejo os dedos do tempo derrubando a areia para o lado debaixo de minha ampulheta. O toque do conhecimento, do ensinamento... das buscas interiores... sim. Busco com afinco... Mas, sinto... o rufar das asas da solidão... Seus passos chegam soturnos, como o soar de mil trovões a soprar silêncios para os recôncavos da alma... Talvez o silêncio seja o que preciso nessa hora. Talvez seja o que me falte. Não o silêncio da boca, mas o silêncio da alma... Aquieto-me, almejo continuar de onde parei. Não lembro dos passos... não lembro... Não sei mais... Tento, procuro... não sei mais... Talvez me sinta sozinha... sem alguém que guie... As palavras dizem para examinar as qualidades do meu nascimento precioso. Mas, e se ainda é um sonho, um anseio, algo que anelo alcançar? Como examinar o que nunca tive? Nunca pensei tanto sobre minha vida, nunca meditei tanto sobre a vida do outro, daquele que conheço, daquele que está perto, longe... dentro, fora... Se estou cumprindo os objetivos da minha vida? E dói a pergunta sobre o nascer de outra: quais são os objetivos de minha vida? Será que ainda os tenho? Uma vez eu pensava ter, mas agora, com tantas mudanças, não sei se poderia dizer que sei alguma coisa de mim... cada dia me conheço menos, cada dia me sei mais... sou uma incógnita de mim... e medito quem sou... quem sou? Seria a mulher do sonho? A menina de lágrimas nos olhos por não entender um desenho de palma de mão? A mesma menina olhando em silêncio o ir-se precioso que lhe fala: você já enxugou tuas lágrimas? Como posso secá-las se não compreendo meu desenho de vida e já não sei mais quais são e se estou cumprindo os objetivos dela? E de minha meditação da noite sobraram só perguntas... será que nasci pra perguntar? Será???????????????? Uma vez eu pensava ter nascido pra amar... Por isso o poema, para lembrar... Felicidades antigas... é costurar pontos de felicidade entre as almas... Mas, hoje preciso ser lembrada, porque vejo só os meus sozinhos... Vejo os dedos do tempo derrubando a areia do lado debaixo da minha ampulheta... tenho praticado, procuro... cada dia consigo menos... E vem a tristeza... e já ouço, perto, bem perto... o rufar das asas da solidão...