Acaso 2
Acaso II
- Era da globalização:
Atual estágio do nosso mundo.
Noite gelada.
Garoa e vento fino uivando como os lobos.
Luzes ofuscantes em prédios e casas:
Fechados e fortemente guardados.
Guaritas com cães ferozes e bem adestrados.
Descendo ladeira abaixo. Assim como a minha vida.
Encontro uma senhora, abaixada perto de um amontoado de lixo.
- Era da globalização....
Coletores em ação.
Difícil descobrir seus rostos.
Porque vestem as sombras do que eram roupas.
Ela sorri. Um sorriso meigo.
Pergunto seu nome? -Com delicadeza ela responde:
Meu nome é o de uma flor, ora representa paixão, ora representa amor...
- Era da globalização.
Amor! Sentimento que resiste.
Onde está sua família? Não sei.
Onde estão os seus amigos? Doce dúvida em seus olhos calmos.
- Era da globalização.
Raízes da sua existência; é a resistência.
Dialética em ação;
Como se dobram estas velhas embalagens de pizza, senhora?
Assim, ela diz; com ternura:
Apanho uma a uma, dobrando-as para diminuir o volume. E, ela vai colocando, uma a uma, na sua carroça de coletora.
Latas dali. Vidros daqui. Papéis e muito papelão...
Oba! Ela dá um grito de alegria.
Achei uma velha frigideira intacta.
- Era da globalização; a felicidade resiste.
Vem o guarda! Vocês estão atrapalhando o trânsito e a calçada.
Procuro os pedestres; vejo fantasmas...
Juntos, tiramos a pesada carroça da frente do condomínio.
Atravessamos e estacionamos a pesada carga do outro lado da rua.
Voltamos para buscar as sobras das sobras.
- Era da globalização.
Os carros que passam em alta velocidade quase nos atropelam.
Ela sorri. Serenamente me diz estar acostumada.
Pergunto quanto ganhará com aquela imensa carga?
Senhor; a cinco quilômetros daqui, receberei uma recompensa:
Algumas moedas com uma figura central na cor prata, circundada pela cor ouro.
E com elas senhor: tentarei tomar um belo café com leite,
acompanhado de pão e manteiga.
O senhor acha que conseguirei?!