QUINTAL
Manhã de puro esplendor
Sol brilhante, calor escaldante
De um dia perdido no passado
Imagem que marcou um instante
Flagrante que ficou gravado
Acontecido em algum lugar
O bichano perturbando a passarada
Pousados entre e os pés de goiaba, limão e sabugueiro
São pardais, canários, sabiás, todos pássaros passageiros
O Lulu também dando o seu recado
Espanta o gato e as galinhas foragidas do galinheiro
Até o galo, senhor das rinhas, deixa de ser o rei do terreiro
Maritacas sobre o telhado
Fazem algazarras, tagarelando
A dona de casa atarefada
Acordou cedo, já trabalhando
Roupas espalhadas pelo chão
A mulher esfrega cada peça
Uma a uma com a pedra de sabão
Bate a roupa com força na beirada do tanque
Bate forte, como nunca se viu
Deposita tudo numa grande bacia
Deixa de molho na mistura do anil
Enxagua camisa, calça, anágua
Torce com vigor, também como nunca se viu
Não desperdiça uma gota d'água
No varal as coloca para quarar
Roupas estendidas simétricamente
Lado a lado um mosaico a formar
Satisfeita, a mulher se retira, finalmente
Merece descansar
Enquanto isso, lá fora no quintal
Maritacas agitadas conversam
sem parar
O bichano ameaça a passarinhada
Enquanto eles permanecem no arvoredo
Quietinhos no ninho, guardando segredo,
Lulu persegue o gato, pura brincadeira,
Atormentando o animal
Galinhas voam feitas loucas
O galo nem aí, só no cocoricó
É sabido, galináceos têm vôos curtos, logo esbarram nas roupas
Estas ficam sujas, sujas de dar dó
De repente, o gato esbarra na madeira
A barra que sustenta o varal
Toda a roupa cai por terra
É mais uma história, talvez banal
Mas toda história, uma vez contada, se eterniza, nunca se encerra.
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